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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Radamés Gnattali - Biografia. Para conhecermos nossa cultura.



Pianista

Eu comecei como concertista. Terminei meu curso em Porto Alegre e vim para o Rio para ser concertista. Eu tinha qualidades para isso. Mas naquele tempo não havia possibilidade de se viver só de concerto. Hoje, há uma porção de sociedades que dão bolsas, mas naquele tempo não havia. Então eu tive que ir para a música popular para sobreviver.
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Eu tenho muita inveja desses pianistas todos, como o Estrella [Arnaldo Estrella], o Moreira Lima [Arthur Moreira Lima], esses pianistas todos que vivem disso, porque o que eu gosto, mesmo, é de tocar piano. Mas para isso tem que se estudar, no mínimo, oito horas por dia, não se preocupar em ter que trabalhar para ganhar dinheiro. Eu gostaria de ser um grande pianista.
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Eu não toco mais piano, mas gostaria de tocar. Há mais de seis meses estou estudando piano para ver se consigo tocar como tocava quando tinha vinte anos [dito à imprensa em 1984, aos 78 anos]. Tá difícil, mas eu vou chegar lá. Vou gravar o Nazareth, com dois pianos. [Radamés não concretizou este projeto].

Piano popular

Com 18 anos, enquanto eu estudava no Instituto teoria, solfejo, piano e violino, tocava ao mesmo tempo num cinema para ganhar uns cobres. Em 1924 integrei uma pequena orquestra (...) a gente tocava no Cinema Colombo, no bairro Floresta, e ganhava 10 mil réis por dia. As partituras eram pot pourri de canções francesas, italianas, operetas, valsas, polcas. Nós líamos tudo o que havia na estante enquanto na tela passavam os filmes mudos.
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Tocar piano é muito difícil, escrever é fácil.

O compositor

Talvez, eu gostasse de viver apenas da música erudita, o que é muito difícil. Talvez, nos países socialistas não seja assim. Mas aqui, viver do direito autoral das composições, não é possível. Se eu fosse tentar viver das minhas composições, eu estaria maluco, hoje. Já tinha me suicidado. Não dá. A não ser tocando em orquestra de rádio, em cinema, em televisão.

Minhas peças prediletas são os 12 concertos para piano, 4 concertos para violino, 3 para violoncelo, 1 para saxofone, bandolim, harpa...Tenho de tudo, até mesmo uma cantata de umbanda com texto do Bororó [Alberto de Castro Simões da Silva]. É a cantata Maria Jesus dos Anjos, para coro e orquestra, narrada pelo Milton Gonçalves e apresentada no Theatro Municipal. Bororó fez o texto todo e compôs alguns pontos. O Pai Jerônimo do centro espírita é que é o autor dos pontos. Mas eu tratei tudo livremente. Eu também tenho dois pontos lá.
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Nunca me frustrei em fazer música popular, faço isso com todo o prazer e gosto muito. Só de conviver com Pixinguinha [Alfredo da Rocha Viana Filho], um sujeito fabuloso, com Garoto [Aníbal Augusto Sardinha], Dino [Dino 7 cordas - Horondino Silva], João [João da Baiana], Jacob [Jacob do Bandolim], excelentes músicos. Se eu tivesse ido à Europa, poderia ter sido um grande pianista, mas nunca seria um compositor brasileiro.

O compositor/arranjador de música popular

Eu gravei minhas primeiras composições na Victor. Quando aparecia um trio - piano, clarinete e bateria [como nos choros Cabuloso e Recordando de 1937] - era eu, o Luís Americano e o Luciano [Luciano Perrone]. Depois apareceu aqui um conjunto com saxofone barítono para fazer uns arranjos para o Orlando Silva. Esses troços meio malucos. Mas foi ótimo porque a gente vai aprendendo.
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Sempre me interessei muito pela música popular, talvez já pensando no futuro. Dizem que isso é premonição, não é? Em Porto Alegre, só se tocava tango argentino. O samba estava restrito ao Rio. Nem em São Paulo se tocava samba. Aliás, até há pouco tempo não se tocava samba em São Paulo [risos]. Eu aprendi a tocar piano popular com os pianeiros. Eu ficava ouvindo os discos do Fontainha [provavelmente, discos de jazz, do seu professor de piano] e aprendendo como se usava os saxofones. É uma escola.

Texto disponível em www.radamesgnattali.com.br

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